Após o CNJ determinar a volta de magistrados e servidores ao trabalho presencial, o que, vamos e venhamos, é mais do que normal, um grupo pequeno e barulhento de juízes passou a coletar assinaturas para uma “carta aberta”, defendendo (pasmem!) o descumprimento da determinação. O grupo planejaria, ainda, fazer uma manifestação em frente ao Conselho, em Brasília/DF, e estudaria judicializar o assunto. As informações foram relevadas pelo Estadão. A missiva não teria um autor declarado e estaria sendo compartilhada em grupos de magistrados no WhatsApp. Segundo o matutino, o grupo se denomina “Respeito à Magistratura” e seria integrado atualmente por 800 juízes estaduais, federais e trabalhistas.
No formulário, os magistrados “denunciam” que a independência funcional estaria sendo violada pelo CNJ “ao exigir, de forma linear e sem observância das peculiaridades inerentes às mais diversas características de cada jurisdição, uma agenda de comparecimento dos magistrados à unidade jurisdicional”. Em resposta ao movimento insurreto, o corregedor nacional de Justiça, ministro Luis Felipe Salomão, afirmou ser “intolerável qualquer resistência por parte de agentes do Estado” ao comando do CNJ para o retorno ao trabalho presencial no Judiciário. “O retorno físico dos magistrados e servidores atende demanda da sociedade e dos próprios tribunais, sendo intolerável qualquer resistência por parte de agentes de Estado ao comando exarado pelo Conselho Nacional de Justiça”.
“Juízes rebeldes”
Afirmando que tal insurgência contra o CNJ não pode passar impune, o Estadão trouxe editorial ontem intitulado “Juízes rebeldes”. No texto, o centenário jornal assevera que o grupelho ameaça não só a autoridade do Conselho, órgão responsável por zelar pela eficiência na prestação dos serviços judiciais no país, como, principalmente, a própria imagem da Justiça perante a sociedade.
“Ora, é evidente que nada há de ilegal nessa resolução. Ao determinar a volta ao trabalho presencial, o CNJ apenas restabeleceu uma rotina à qual todos os magistrados e servidores estavam habituados até pouco tempo atrás, suspensa apenas em razão da pandemia. (…) Por trás dessa alegação está a defesa de interesses particulares e privilégios aos quais se aferrou essa minoria de juízes e servidores. Alguns tiveram o desplante de alegar que, em decorrência do trabalho remoto, fixaram residência no exterior e, portanto, estariam fisicamente impedidos de retornar aos postos de trabalho.”
“Eremildo, o idiota”
Também em ácido tom de crítica, o brilhante jornalista Elio Gaspari, n’Globo, utilizou seu onírico personagem “Eremildo”, conhecido como “o idiota”, para tratar ironicamente do assunto. Delicie-se, leitor, com a nota abaixo:
“Eremildo é um idiota e aderiu ao movimento Respeito à Magistratura liderado por juízes que não querem voltar ao trabalho presencial. O cretino é contra todas as formas de trabalho, inclusive o virtual, e acredita que o movimento é um bom começo para viabilizar sua agenda.
Os juízes não querem comparecer ao local de trabalho e ameaçam dizendo que uma carta, defendendo essa prerrogativa, já tem o apoio de 800 magistrados. Seus nomes, contudo, não são conhecidos. O idiota encantou-se com esse detalhe. Não querem dar expediente no serviço e protestam e não comparecem nem ao menos com suas assinaturas.
Eremildo fez uma pesquisa no seu círculo de amizades, formado por pessoas que têm horror ao trabalho. Ficou com a suspeita de que a nascente desse glorioso movimento está num grupo de magistrados da Justiça do Trabalho. Os mais incomodados com o trabalho presencial são juízes que respondem por varas num estado e moram em outro.”
(Fonte: Migalhas)